A destruição das funções sociais do Estado


Quem se dê ao trabalho de analisar de uma forma objetiva o conteúdo da informação sobre o OE-2013 veiculada pelos grandes media e, nomeadamente, pelos comentadores habituais que têm acesso privilegiado a eles, conclui rapidamente que, pelo menos, três técnicas clássicas de manipulação da opinião pública são utilizadas intensamente.
A primeira técnica de manipulação mais usada pelos média é a utilização daquilo que se designa por “palavras-veneno”, que são palavras que, quando usadas, provocam no leitor um reflexo condicionado de tipo pavloviano negativo. Isto vem a propósito da utilização maciça da palavra “despesa” quer pelo governo, quer ainda pelos defensores do governo nos média, como toda a despesa fosse má, incluindo a despesa com a saúde, a educação, as prestações sociais e pensões de reforma dos portugueses. A segunda técnica clássica de manipulação da opinião pública também usada é a que foi utilizada recentemente por Marques Mendes no seu comentário habitual na TVI, o chamado “argumento de autoridade”. Para este defensor do governo, um plano adicional (a juntar ao que já consta do OE-2013) de cortes brutais de 4.000 milhões €, sendo 3.500 milhões € na educação, saúde e segurança social seria credível se fosse elaborado pelo FMI e BCE porque estas entidades são credíveis naturalmente para ele, por o serem para os credores (FMI, U.E, bancos e fundos especulativos). Finalmente, a terceira técnica de manipulação da opinião pública que está a ser utilizada maciçamente pelos grandes media é a repetição (uma mentira repetida muitas vezes acaba por passar como verdadeira). É o que acontece com a palavra “despesa pública” que é sinónimo, para estes senhores, de desperdício, gasto inútil e desnecessário. E isso é reforçado pelo facto de na seleção dos comentadores que falam sobre o OE-2013 existir a evidente preocupação de escolher apenas os que coincidem com a “verdade oficial” afastando as vozes discordantes, criando assim um falso unanimismo. Desmontar toda esta campanha maciça de propaganda e manipulação (intoxicação) da opinião pública é difícil mas é necessária e é urgente que as organizações de trabalhadores se preocupem em o fazer.
Tudo isto vem a propósito da manobra de diversão lançada por Passos Coelho (“refundação” do Memorando da “troika”), para esconder a destruição das funções sociais do Estado (o Estado Social) que já resulta do OE-2013. A provar isto, está o facto de se deduzirmos nas Despesas de Pessoal da Administração Central previstas na proposta de OE para 2013, o subsidio de Natal e o aumento das contribuições das entidades públicas para a CGA de 15% para 20% constante da proposta de lei, despesas estas que não existiam em 2012, obtém-se 10.962,8 milhões €, valor este inferior em 999,1 milhões € à despesa prevista no OE-2012. Só a nível de remunerações certas e permanentes a redução é de 617,7 milhões €. É evidente que uma redução nas despesas de pessoal com tal dimensão não se consegue sem uma significativa redução do número de trabalhadores da Função Pública pois não é alcançada apenas com as aposentações e as restrições ao recrutamento, onde o governo prevê “poupar” 330 milhões € em 2013. Cálculos que fizemos com base nos dados da DGAEP sobre as remunerações na Função Pública concluímos que, só a nível da Administração Central, seria necessário uma redução de mais de 60.000 trabalhadores para conseguir aquela redução na despesa com pessoal. A confirmar que está nas intenções do governo proceder a despedimentos maciços na Administração Pública em 2013 é o facto de que na proposta de Lei do OE-2013 são aditados mais três artigos ao Código Contributivo da Segurança Social – artº 91-A, 91-B e 91-C – que criam o subsidio de desemprego para todos os trabalhadores da Função Pública, incluindo os abrangidos pelos artigos 10º (que têm vinculo público) e 88º da Lei 12-A/2008 (que tinham vinculo publico).
Em apenas 3 anos (2011/2013), este governo e a “troika” estrangeira que o controla, impuseram cortes na despesa pública que atingem 13.972 milhões €, e aumentos de impostos que somam 9.032 milhões €,o que adicionados atingem 23.005 milhões €, ou seja, o correspondente a 13,7% do PIB, sendo 4788 milhões € nas remunerações dos trabalhadores da Função Publica; 4.133 milhões € nas pensões e outras prestações sociais; e 1.694 milhões € nos serviços de saúde e educação públicas prestados à população. E como tudo isto não fosse suficiente pretendem cortar ainda mais 4.000 milhões €. Em relação ao aumento de impostos, de um total de aumento de receitas estimadas pelo governo em 9.000 milhões €, mais de 6.139 milhões € (68%) têm como origem rendimentos de trabalho e pensões. Tudo isto contribui para agravar a recessão económica e o desemprego. E a pergunta que naturalmente se coloca é esta: Em beneficio de quem todos estes sacrifícios são feitos? Sem procurar dar uma resposta completa porque a paciência dos leitores não é elástica, acrescentamos apenas o seguinte para reflexão. Em 3 anos, os contribuintes portugueses pagarão 21.680 milhões € de juros. Se Portugal pagasse a taxa de juro que é cobrada pelo BCE quando concede empréstimos aos bancos o nosso país pagaria apenas 4.340 milhões €, ou seja, menos 17.340,3 milhões €; isto é, o BCE empresta à banca privada a uma taxa de 0,75% para esta depois especular com a divida pública impondo pesados sacrifícios aos portugueses. E por esta e outras razões semelhantes que a politica do governo e da “troika” estão a conduzir Portugal para o abismo. Mas disto os media não falam
Quem se dê ao trabalho de analisar de uma forma objetiva o conteúdo da informação sobre o OE-2013 veiculada pelos grandes media em Portugal e, nomeadamente pelos comentadores que têm acesso privilegiado a eles, conclui que, pelo menos, três técnicas clássicas de manipulação da opinião pública são utilizadas intensamente. Mesmo num estudo desta natureza, é importante chamar a atenção para elas, denunciá-las mesmo, pois como são técnicas manipulatórias encobertas que acabam por passar despercebidas (são naturalizadas) à maioria dos portugueses.
A primeira técnica de manipulação da opinião pública mais utilizada pelos media neste momento tem sido aquela que Philippe Breton, no seu livro “A Palavra Manipulada” designa por “palavras – armadilha” e, dentro destas as chamas “palavras-veneno”, que são palavras que, quando são utilizadas, provocam no leitor um reflexo condicionado de tipo pavloviano negativo, portanto, de natureza irracional. Isto vem a propósito da utilização maciça da palavra “despesa” quer pelo governo, quer por toda a direita, quer ainda pelos defensores no governo nos media, como toda a despesa fosse má, incluindo a despesa com a saúde, a educação, as prestações sociais e pensões de reforma dos portugueses. E para tornar a chantagem ainda mais eficaz recorrem a um enquadramento falso e manipulatório, e também ao medo (outra técnica manipulatória), de que só é possível evitar o brutal aumento da carga fiscal que o governo e “troika” pretendem impor aos portugueses se forem feitos cortes brutais na despesa pública, nomeadamente nas funções sociais do Estado. Portanto, o aumento brutal dos impostos deixa de ser uma consequência da redução violenta do défice orçamental que pretendem impor para satisfazer os credores e da destruição da economia portuguesa que estão a provocar, associada a uma politica iniqua na repartição dos sacrifícios que está atingir fundamentalmente trabalhadores e pensionistas, e da recessão económica que estão a provocar, mas sim por causa da boa despesa pública. E a manipulação da opinião pública é tão grande que mesmo aqueles que se opõem ao fecho de centros de saúde, de serviços em hospitais, e de escolas, aos cortes nos medicamentos, e nas prestações sociais e nas pensões, etc., quando lhe falam em corte da despesa pública estão de acordo, como uma coisa fosse compatível com a outra.
Desmontar e desconstruir toda esta campanha de manipulação da opinião pública a que se prestam os principais media em Portugal é uma tarefa necessária e importante, embora seja difícil. As organizações de trabalhadores e, nomeadamente, os sindicatos têm uma responsabilidade grande neste campo embora ainda não tenham dado a atenção necessária pelo menos de uma forma planeada e com objetivos precisos.
A segunda técnica clássica de manipulação da opinião pública usual foi a utilizada recentemente por Marques Mendes no seu comentário habitual na TVI - “o argumento de autoridade, -também referido por Philippe Breton, de uso antigo mas com objetivos diferentes. Aquele defensor do governo nos media anunciou que estava a ser elaborado mais um plano, para além de tudo que já consta na proposta de lei do OE-2013, para fazer um novo corte brutal na despesa pública de 4.000 milhões €, sendo 3.500 milhões € na educação, na saúde e na segurança social públicas. E apesar disso determinar mais destruição das funções sociais do Estado, o que agravaria ainda mais as condições de vida dos portugueses, manifestou a sua satisfação, criticando-o apenas por ser tardio. E utilizando uma das técnicas clássicas de manipulação –o argumento de autoridade – acrescentou que esse plano estava a ser elaborado por técnicos do FMI e do BCE, por isso, afirmou ele, o plano seria credível. Só se for credível para os credores, ou seja, para os grandes bancos, seguradoras e fundos nacionais e estrangeiros, já que todos os planos feitos por aquelas entidades visam satisfazer a ganância destes grupos financeiros e não as necessidades das populações.
Finalmente, a terceira técnica de manipulação da opinião pública que está a ser utilizada intensamente pelos media para defender de uma forma indireta as posições do governo é a repetição que, como já afirmava Tchakhotine, citado por Philippe Breton, “desempenha, visivelmente, um considerável papel nos processos manipulatórios … cria por inteiro, artificialmente, e pelo facto do seu mecanismo, uma sensação de evidência… funciona com base no esquecimento de que aquilo que é repetido nunca é explicitado”. E esta forma de manipulação da opinião publica pelos grandes media ainda se torna mais eficaz porque esta tem a preocupação de convidar quase sempre apenas os comentadores que repetem sempre o mesmo, eliminado os discordantes.
Eugénio Rosa - Economista
Quem se dê ao trabalho de analisar de uma forma objetiva o conteúdo da informação sobre o OE-2013 veiculada pelos grandes media e, nomeadamente, pelos comentadores habituais que têm acesso privilegiado a eles, conclui rapidamente que, pelo menos, três técnicas clássicas de manipulação da opinião pública são utilizadas intensamente.
A primeira técnica de manipulação mais usada pelos média é a utilização daquilo que se designa por “palavras-veneno”, que são palavras que, quando usadas, provocam no leitor um reflexo condicionado de tipo pavloviano negativo. Isto vem a propósito da utilização maciça da palavra “despesa” quer pelo governo, quer ainda pelos defensores do governo nos média, como toda a despesa fosse má, incluindo a despesa com a saúde, a educação, as prestações sociais e pensões de reforma dos portugueses. A segunda técnica clássica de manipulação da opinião pública também usada é a que foi utilizada recentemente por Marques Mendes no seu comentário habitual na TVI, o chamado “argumento de autoridade”. Para este defensor do governo, um plano adicional (a juntar ao que já consta do OE-2013) de cortes brutais de 4.000 milhões €, sendo 3.500 milhões € na educação, saúde e segurança social seria credível se fosse elaborado pelo FMI e BCE porque estas entidades são credíveis naturalmente para ele, por o serem para os credores (FMI, U.E, bancos e fundos especulativos). Finalmente, a terceira técnica de manipulação da opinião pública que está a ser utilizada maciçamente pelos grandes media é a repetição (uma mentira repetida muitas vezes acaba por passar como verdadeira). É o que acontece com a palavra “despesa pública” que é sinónimo, para estes senhores, de desperdício, gasto inútil e desnecessário. E isso é reforçado pelo facto de na seleção dos comentadores que falam sobre o OE-2013 existir a evidente preocupação de escolher apenas os que coincidem com a “verdade oficial” afastando as vozes discordantes, criando assim um falso unanimismo. Desmontar toda esta campanha maciça de propaganda e manipulação (intoxicação) da opinião pública é difícil mas é necessária e é urgente que as organizações de trabalhadores se preocupem em o fazer.
Tudo isto vem a propósito da manobra de diversão lançada por Passos Coelho (“refundação” do Memorando da “troika”), para esconder a destruição das funções sociais do Estado (o Estado Social) que já resulta do OE-2013. A provar isto, está o facto de se deduzirmos nas Despesas de Pessoal da Administração Central previstas na proposta de OE para 2013, o subsidio de Natal e o aumento das contribuições das entidades públicas para a CGA de 15% para 20% constante da proposta de lei, despesas estas que não existiam em 2012, obtém-se 10.962,8 milhões €, valor este inferior em 999,1 milhões € à despesa prevista no OE-2012. Só a nível de remunerações certas e permanentes a redução é de 617,7 milhões €. É evidente que uma redução nas despesas de pessoal com tal dimensão não se consegue sem uma significativa redução do número de trabalhadores da Função Pública pois não é alcançada apenas com as aposentações e as restrições ao recrutamento, onde o governo prevê “poupar” 330 milhões € em 2013. Cálculos que fizemos com base nos dados da DGAEP sobre as remunerações na Função Pública concluímos que, só a nível da Administração Central, seria necessário uma redução de mais de 60.000 trabalhadores para conseguir aquela redução na despesa com pessoal. A confirmar que está nas intenções do governo proceder a despedimentos maciços na Administração Pública em 2013 é o facto de que na proposta de Lei do OE-2013 são aditados mais três artigos ao Código Contributivo da Segurança Social – artº 91-A, 91-B e 91-C – que criam o subsidio de desemprego para todos os trabalhadores da Função Pública, incluindo os abrangidos pelos artigos 10º (que têm vinculo público) e 88º da Lei 12-A/2008 (que tinham vinculo publico).
Em apenas 3 anos (2011/2013), este governo e a “troika” estrangeira que o controla, impuseram cortes na despesa pública que atingem 13.972 milhões €, e aumentos de impostos que somam 9.032 milhões €,o que adicionados atingem 23.005 milhões €, ou seja, o correspondente a 13,7% do PIB, sendo 4788 milhões € nas remunerações dos trabalhadores da Função Publica; 4.133 milhões € nas pensões e outras prestações sociais; e 1.694 milhões € nos serviços de saúde e educação públicas prestados à população. E como tudo isto não fosse suficiente pretendem cortar ainda mais 4.000 milhões €. Em relação ao aumento de impostos, de um total de aumento de receitas estimadas pelo governo em 9.000 milhões €, mais de 6.139 milhões € (68%) têm como origem rendimentos de trabalho e pensões. Tudo isto contribui para agravar a recessão económica e o desemprego. E a pergunta que naturalmente se coloca é esta: Em beneficio de quem todos estes sacrifícios são feitos? Sem procurar dar uma resposta completa porque a paciência dos leitores não é elástica, acrescentamos apenas o seguinte para reflexão. Em 3 anos, os contribuintes portugueses pagarão 21.680 milhões € de juros. Se Portugal pagasse a taxa de juro que é cobrada pelo BCE quando concede empréstimos aos bancos o nosso país pagaria apenas 4.340 milhões €, ou seja, menos 17.340,3 milhões €; isto é, o BCE empresta à banca privada a uma taxa de 0,75% para esta depois especular com a divida pública impondo pesados sacrifícios aos portugueses. E por esta e outras razões semelhantes que a politica do governo e da “troika” estão a conduzir Portugal para o abismo. Mas disto os media não falam
Quem se dê ao trabalho de analisar de uma forma objetiva o conteúdo da informação sobre o OE-2013 veiculada pelos grandes media em Portugal e, nomeadamente pelos comentadores que têm acesso privilegiado a eles, conclui que, pelo menos, três técnicas clássicas de manipulação da opinião pública são utilizadas intensamente. Mesmo num estudo desta natureza, é importante chamar a atenção para elas, denunciá-las mesmo, pois como são técnicas manipulatórias encobertas que acabam por passar despercebidas (são naturalizadas) à maioria dos portugueses.
A primeira técnica de manipulação da opinião pública mais utilizada pelos media neste momento tem sido aquela que Philippe Breton, no seu livro “A Palavra Manipulada” designa por “palavras – armadilha” e, dentro destas as chamas “palavras-veneno”, que são palavras que, quando são utilizadas, provocam no leitor um reflexo condicionado de tipo pavloviano negativo, portanto, de natureza irracional. Isto vem a propósito da utilização maciça da palavra “despesa” quer pelo governo, quer por toda a direita, quer ainda pelos defensores no governo nos media, como toda a despesa fosse má, incluindo a despesa com a saúde, a educação, as prestações sociais e pensões de reforma dos portugueses. E para tornar a chantagem ainda mais eficaz recorrem a um enquadramento falso e manipulatório, e também ao medo (outra técnica manipulatória), de que só é possível evitar o brutal aumento da carga fiscal que o governo e “troika” pretendem impor aos portugueses se forem feitos cortes brutais na despesa pública, nomeadamente nas funções sociais do Estado. Portanto, o aumento brutal dos impostos deixa de ser uma consequência da redução violenta do défice orçamental que pretendem impor para satisfazer os credores e da destruição da economia portuguesa que estão a provocar, associada a uma politica iniqua na repartição dos sacrifícios que está atingir fundamentalmente trabalhadores e pensionistas, e da recessão económica que estão a provocar, mas sim por causa da boa despesa pública. E a manipulação da opinião pública é tão grande que mesmo aqueles que se opõem ao fecho de centros de saúde, de serviços em hospitais, e de escolas, aos cortes nos medicamentos, e nas prestações sociais e nas pensões, etc., quando lhe falam em corte da despesa pública estão de acordo, como uma coisa fosse compatível com a outra.
Desmontar e desconstruir toda esta campanha de manipulação da opinião pública a que se prestam os principais media em Portugal é uma tarefa necessária e importante, embora seja difícil. As organizações de trabalhadores e, nomeadamente, os sindicatos têm uma responsabilidade grande neste campo embora ainda não tenham dado a atenção necessária pelo menos de uma forma planeada e com objetivos precisos.
A segunda técnica clássica de manipulação da opinião pública usual foi a utilizada recentemente por Marques Mendes no seu comentário habitual na TVI - “o argumento de autoridade, -também referido por Philippe Breton, de uso antigo mas com objetivos diferentes. Aquele defensor do governo nos media anunciou que estava a ser elaborado mais um plano, para além de tudo que já consta na proposta de lei do OE-2013, para fazer um novo corte brutal na despesa pública de 4.000 milhões €, sendo 3.500 milhões € na educação, na saúde e na segurança social públicas. E apesar disso determinar mais destruição das funções sociais do Estado, o que agravaria ainda mais as condições de vida dos portugueses, manifestou a sua satisfação, criticando-o apenas por ser tardio. E utilizando uma das técnicas clássicas de manipulação –o argumento de autoridade – acrescentou que esse plano estava a ser elaborado por técnicos do FMI e do BCE, por isso, afirmou ele, o plano seria credível. Só se for credível para os credores, ou seja, para os grandes bancos, seguradoras e fundos nacionais e estrangeiros, já que todos os planos feitos por aquelas entidades visam satisfazer a ganância destes grupos financeiros e não as necessidades das populações.
Finalmente, a terceira técnica de manipulação da opinião pública que está a ser utilizada intensamente pelos media para defender de uma forma indireta as posições do governo é a repetição que, como já afirmava Tchakhotine, citado por Philippe Breton, “desempenha, visivelmente, um considerável papel nos processos manipulatórios … cria por inteiro, artificialmente, e pelo facto do seu mecanismo, uma sensação de evidência… funciona com base no esquecimento de que aquilo que é repetido nunca é explicitado”. E esta forma de manipulação da opinião publica pelos grandes media ainda se torna mais eficaz porque esta tem a preocupação de convidar quase sempre apenas os comentadores que repetem sempre o mesmo, eliminado os discordantes.
A primeira técnica de manipulação mais usada pelos média é a utilização daquilo que se designa por “palavras-veneno”, que são palavras que, quando usadas, provocam no leitor um reflexo condicionado de tipo pavloviano negativo. Isto vem a propósito da utilização maciça da palavra “despesa” quer pelo governo, quer ainda pelos defensores do governo nos média, como toda a despesa fosse má, incluindo a despesa com a saúde, a educação, as prestações sociais e pensões de reforma dos portugueses. A segunda técnica clássica de manipulação da opinião pública também usada é a que foi utilizada recentemente por Marques Mendes no seu comentário habitual na TVI, o chamado “argumento de autoridade”. Para este defensor do governo, um plano adicional (a juntar ao que já consta do OE-2013) de cortes brutais de 4.000 milhões €, sendo 3.500 milhões € na educação, saúde e segurança social seria credível se fosse elaborado pelo FMI e BCE porque estas entidades são credíveis naturalmente para ele, por o serem para os credores (FMI, U.E, bancos e fundos especulativos). Finalmente, a terceira técnica de manipulação da opinião pública que está a ser utilizada maciçamente pelos grandes media é a repetição (uma mentira repetida muitas vezes acaba por passar como verdadeira). É o que acontece com a palavra “despesa pública” que é sinónimo, para estes senhores, de desperdício, gasto inútil e desnecessário. E isso é reforçado pelo facto de na seleção dos comentadores que falam sobre o OE-2013 existir a evidente preocupação de escolher apenas os que coincidem com a “verdade oficial” afastando as vozes discordantes, criando assim um falso unanimismo. Desmontar toda esta campanha maciça de propaganda e manipulação (intoxicação) da opinião pública é difícil mas é necessária e é urgente que as organizações de trabalhadores se preocupem em o fazer.
Tudo isto vem a propósito da manobra de diversão lançada por Passos Coelho (“refundação” do Memorando da “troika”), para esconder a destruição das funções sociais do Estado (o Estado Social) que já resulta do OE-2013. A provar isto, está o facto de se deduzirmos nas Despesas de Pessoal da Administração Central previstas na proposta de OE para 2013, o subsidio de Natal e o aumento das contribuições das entidades públicas para a CGA de 15% para 20% constante da proposta de lei, despesas estas que não existiam em 2012, obtém-se 10.962,8 milhões €, valor este inferior em 999,1 milhões € à despesa prevista no OE-2012. Só a nível de remunerações certas e permanentes a redução é de 617,7 milhões €. É evidente que uma redução nas despesas de pessoal com tal dimensão não se consegue sem uma significativa redução do número de trabalhadores da Função Pública pois não é alcançada apenas com as aposentações e as restrições ao recrutamento, onde o governo prevê “poupar” 330 milhões € em 2013. Cálculos que fizemos com base nos dados da DGAEP sobre as remunerações na Função Pública concluímos que, só a nível da Administração Central, seria necessário uma redução de mais de 60.000 trabalhadores para conseguir aquela redução na despesa com pessoal. A confirmar que está nas intenções do governo proceder a despedimentos maciços na Administração Pública em 2013 é o facto de que na proposta de Lei do OE-2013 são aditados mais três artigos ao Código Contributivo da Segurança Social – artº 91-A, 91-B e 91-C – que criam o subsidio de desemprego para todos os trabalhadores da Função Pública, incluindo os abrangidos pelos artigos 10º (que têm vinculo público) e 88º da Lei 12-A/2008 (que tinham vinculo publico).
Em apenas 3 anos (2011/2013), este governo e a “troika” estrangeira que o controla, impuseram cortes na despesa pública que atingem 13.972 milhões €, e aumentos de impostos que somam 9.032 milhões €,o que adicionados atingem 23.005 milhões €, ou seja, o correspondente a 13,7% do PIB, sendo 4788 milhões € nas remunerações dos trabalhadores da Função Publica; 4.133 milhões € nas pensões e outras prestações sociais; e 1.694 milhões € nos serviços de saúde e educação públicas prestados à população. E como tudo isto não fosse suficiente pretendem cortar ainda mais 4.000 milhões €. Em relação ao aumento de impostos, de um total de aumento de receitas estimadas pelo governo em 9.000 milhões €, mais de 6.139 milhões € (68%) têm como origem rendimentos de trabalho e pensões. Tudo isto contribui para agravar a recessão económica e o desemprego. E a pergunta que naturalmente se coloca é esta: Em beneficio de quem todos estes sacrifícios são feitos? Sem procurar dar uma resposta completa porque a paciência dos leitores não é elástica, acrescentamos apenas o seguinte para reflexão. Em 3 anos, os contribuintes portugueses pagarão 21.680 milhões € de juros. Se Portugal pagasse a taxa de juro que é cobrada pelo BCE quando concede empréstimos aos bancos o nosso país pagaria apenas 4.340 milhões €, ou seja, menos 17.340,3 milhões €; isto é, o BCE empresta à banca privada a uma taxa de 0,75% para esta depois especular com a divida pública impondo pesados sacrifícios aos portugueses. E por esta e outras razões semelhantes que a politica do governo e da “troika” estão a conduzir Portugal para o abismo. Mas disto os media não falam
Quem se dê ao trabalho de analisar de uma forma objetiva o conteúdo da informação sobre o OE-2013 veiculada pelos grandes media em Portugal e, nomeadamente pelos comentadores que têm acesso privilegiado a eles, conclui que, pelo menos, três técnicas clássicas de manipulação da opinião pública são utilizadas intensamente. Mesmo num estudo desta natureza, é importante chamar a atenção para elas, denunciá-las mesmo, pois como são técnicas manipulatórias encobertas que acabam por passar despercebidas (são naturalizadas) à maioria dos portugueses.
A primeira técnica de manipulação da opinião pública mais utilizada pelos media neste momento tem sido aquela que Philippe Breton, no seu livro “A Palavra Manipulada” designa por “palavras – armadilha” e, dentro destas as chamas “palavras-veneno”, que são palavras que, quando são utilizadas, provocam no leitor um reflexo condicionado de tipo pavloviano negativo, portanto, de natureza irracional. Isto vem a propósito da utilização maciça da palavra “despesa” quer pelo governo, quer por toda a direita, quer ainda pelos defensores no governo nos media, como toda a despesa fosse má, incluindo a despesa com a saúde, a educação, as prestações sociais e pensões de reforma dos portugueses. E para tornar a chantagem ainda mais eficaz recorrem a um enquadramento falso e manipulatório, e também ao medo (outra técnica manipulatória), de que só é possível evitar o brutal aumento da carga fiscal que o governo e “troika” pretendem impor aos portugueses se forem feitos cortes brutais na despesa pública, nomeadamente nas funções sociais do Estado. Portanto, o aumento brutal dos impostos deixa de ser uma consequência da redução violenta do défice orçamental que pretendem impor para satisfazer os credores e da destruição da economia portuguesa que estão a provocar, associada a uma politica iniqua na repartição dos sacrifícios que está atingir fundamentalmente trabalhadores e pensionistas, e da recessão económica que estão a provocar, mas sim por causa da boa despesa pública. E a manipulação da opinião pública é tão grande que mesmo aqueles que se opõem ao fecho de centros de saúde, de serviços em hospitais, e de escolas, aos cortes nos medicamentos, e nas prestações sociais e nas pensões, etc., quando lhe falam em corte da despesa pública estão de acordo, como uma coisa fosse compatível com a outra.
Desmontar e desconstruir toda esta campanha de manipulação da opinião pública a que se prestam os principais media em Portugal é uma tarefa necessária e importante, embora seja difícil. As organizações de trabalhadores e, nomeadamente, os sindicatos têm uma responsabilidade grande neste campo embora ainda não tenham dado a atenção necessária pelo menos de uma forma planeada e com objetivos precisos.
A segunda técnica clássica de manipulação da opinião pública usual foi a utilizada recentemente por Marques Mendes no seu comentário habitual na TVI - “o argumento de autoridade, -também referido por Philippe Breton, de uso antigo mas com objetivos diferentes. Aquele defensor do governo nos media anunciou que estava a ser elaborado mais um plano, para além de tudo que já consta na proposta de lei do OE-2013, para fazer um novo corte brutal na despesa pública de 4.000 milhões €, sendo 3.500 milhões € na educação, na saúde e na segurança social públicas. E apesar disso determinar mais destruição das funções sociais do Estado, o que agravaria ainda mais as condições de vida dos portugueses, manifestou a sua satisfação, criticando-o apenas por ser tardio. E utilizando uma das técnicas clássicas de manipulação –o argumento de autoridade – acrescentou que esse plano estava a ser elaborado por técnicos do FMI e do BCE, por isso, afirmou ele, o plano seria credível. Só se for credível para os credores, ou seja, para os grandes bancos, seguradoras e fundos nacionais e estrangeiros, já que todos os planos feitos por aquelas entidades visam satisfazer a ganância destes grupos financeiros e não as necessidades das populações.
Finalmente, a terceira técnica de manipulação da opinião pública que está a ser utilizada intensamente pelos media para defender de uma forma indireta as posições do governo é a repetição que, como já afirmava Tchakhotine, citado por Philippe Breton, “desempenha, visivelmente, um considerável papel nos processos manipulatórios … cria por inteiro, artificialmente, e pelo facto do seu mecanismo, uma sensação de evidência… funciona com base no esquecimento de que aquilo que é repetido nunca é explicitado”. E esta forma de manipulação da opinião publica pelos grandes media ainda se torna mais eficaz porque esta tem a preocupação de convidar quase sempre apenas os comentadores que repetem sempre o mesmo, eliminado os discordantes.
Eugénio Rosa - Economista














Enviar um comentário