Salários pagos à maioria dos portugueses não são a causa da baixa competitividade da nossa economia


Os salários mensais líquidos dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, ou seja, aquilo que ele leva para casa, e com que tem, ele e a família, de viver continua a ser baixíssimo em Portugal, e há ainda gente que, em nome da competitividade, afirma que os salários são muito elevados, e são a causa da baixa competitividade das empresas portuguesas. O quadro seguinte, construído com dados divulgados pelo INE, mostra a evolução dos salários médios mensais líquidos nominais nas diferentes regiões do País no período 2006/2010.

Entre 2006 e 2010, o salário médio mensal liquido nominal aumentou de 707 € para 777€, ou seja, teve uma subida apenas de 9,9% em 4 anos. E não se deduziu o efeito da inflação. Se dividirmos o aumento verificado pelo número de anos, obtém-se um valor médio de apenas 18€ por ano.
Se a análise for feita por regiões, conclui-se que, se verificaram grandes desigualdades nos aumentos verificados entre 2006 e 2010, variando entre +13,9% (RA Madeira) e -1,3% (Algarve). Tal variação determinou que, no 3º Trimestre de 2010, o salário médio líquido nominal fosse na região de Lisboa superior em 18% ao salário médio liquido nacional, enquanto na região Norte era inferior ao salário médio nacional em -6,4%; na região Centro em -10,2%; no Alentejo em -6,4%; no Algarve em -3%; na RA dos Açores em -10%; e na RA da Madeira era inferior ao salário médio liquido nacional em -5,4%. Portanto, salários líquidos muito baixos mas, para além disso, muito desiguais de região para região (a diferença salarial entre Lisboa e a região Centro é de 28%).
1.422.800 TRABALHADORES POR CONTA DE OUTREM RECEBIAM MENOS DE 600€ POR MÊS E, DESTES, 120,6 MIL TINHAM SALÁRIOS LIQUIDOS INFERIORES A 310€/MÊS
Se a análise for feita por escalões de rendimento, a conclusão que se tira é ainda mais grave como revela o quadro seguinte, construído também com dados divulgados pelo INE.

No 3º Trimestre de 2010, 37% dos trabalhadores por conta de outrem portugueses, ou seja, 1.422.800, recebiam um salário liquido mensal inferior a 600€/mês. Os trabalhadores por conta de outrem com salários líquidos superiores a 1.200€ por mês eram apenas 492,3 mil (os com salários líquidos mensais superiores a 1800€ eram somente 155,4 mil, ou seja, 4,1%).
Se a análise for feita por sector de actividade económica conclui que, no 3º Trimestre de 2010, na Agricultura, Silvicultura e Pescas 65,2% recebiam salários líquidos mensais nominais inferiores a 600€/mês, e 14,5% inferiores a 310€/mês; na Indústria, Construção, Energia e Água, 41,2% dos trabalhadores por conta de outrem recebiam salários inferiores a 600€/mês; nos Serviços, o número de trabalhadores com salários líquidos inferiores a 600€/mês atingia 874,8 mil, ou seja, 34,2% do total. Os trabalhadores com salários líquidos superiores a 1.200€ por mês eram apenas 2,3% do total no sector primário; 6,4% no sector secundário, e 16,2% do total no sector terciário.
Afirmar, como dizem alguns, nomeadamente os “comentadores habituais” (“opinios –makers”), com acesso privilegiado aos grandes media, que a falta de competitividade da maioria das empresas portuguesas se deve aos elevados salários pagos, e que é necessário, para aumentar a competitividade, congelar os salários nominais, ou mesmo reduzi-los, como o governo deu o exemplo na Administração Pública, é revelar má-fé ou profunda ignorância da realidade económica nacional.
Infelizmente, este governo parece alinhar pelo mesmo diapasão, pois acabou de apresentar na concertação social um conjunto de propostas que visam “embaratecer” ainda mais “o factor trabalho”, como gostam de dizer os neoliberais da nossa “praça”, nomeadamente o trabalho dos estagiários e dos trabalhadores que estão nos programas ocupacionais (e são muitos milhares) com o objectivo, por um lado, de aumentar a exploração desses trabalhadores e, por outro lado, para os utilizar como instrumento de pressão sobre os restantes trabalhadores a fim de obrigar estes a aceitar reduções grandes nos salários reais.
Os dados do INE sobre os salários líquidos nominais dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, revelam e confirmam também a profunda desigualdade que continua a existir no nosso País na distribuição do rendimento, e se os propósitos das entidades patronais e do governo se concretizarem levarão certamente a um maior agravamento das desigualdades existentes e, consequentemente, da situação social mas também económica, tornando ainda muito mais difícil, doloroso e prolongado o tempo para sair da grave crise em que nos encontramos mergulhados.
Eugénio Rosa (Economista edr2@netcabo.pt 6.1.2011)
Entre 2006 e 2010, o salário médio mensal liquido nominal aumentou de 707 € para 777€, ou seja, teve uma subida apenas de 9,9% em 4 anos. E não se deduziu o efeito da inflação. Se dividirmos o aumento verificado pelo número de anos, obtém-se um valor médio de apenas 18€ por ano.
Se a análise for feita por regiões, conclui-se que, se verificaram grandes desigualdades nos aumentos verificados entre 2006 e 2010, variando entre +13,9% (RA Madeira) e -1,3% (Algarve). Tal variação determinou que, no 3º Trimestre de 2010, o salário médio líquido nominal fosse na região de Lisboa superior em 18% ao salário médio liquido nacional, enquanto na região Norte era inferior ao salário médio nacional em -6,4%; na região Centro em -10,2%; no Alentejo em -6,4%; no Algarve em -3%; na RA dos Açores em -10%; e na RA da Madeira era inferior ao salário médio liquido nacional em -5,4%. Portanto, salários líquidos muito baixos mas, para além disso, muito desiguais de região para região (a diferença salarial entre Lisboa e a região Centro é de 28%).
1.422.800 TRABALHADORES POR CONTA DE OUTREM RECEBIAM MENOS DE 600€ POR MÊS E, DESTES, 120,6 MIL TINHAM SALÁRIOS LIQUIDOS INFERIORES A 310€/MÊS
Se a análise for feita por escalões de rendimento, a conclusão que se tira é ainda mais grave como revela o quadro seguinte, construído também com dados divulgados pelo INE.

No 3º Trimestre de 2010, 37% dos trabalhadores por conta de outrem portugueses, ou seja, 1.422.800, recebiam um salário liquido mensal inferior a 600€/mês. Os trabalhadores por conta de outrem com salários líquidos superiores a 1.200€ por mês eram apenas 492,3 mil (os com salários líquidos mensais superiores a 1800€ eram somente 155,4 mil, ou seja, 4,1%).
Se a análise for feita por sector de actividade económica conclui que, no 3º Trimestre de 2010, na Agricultura, Silvicultura e Pescas 65,2% recebiam salários líquidos mensais nominais inferiores a 600€/mês, e 14,5% inferiores a 310€/mês; na Indústria, Construção, Energia e Água, 41,2% dos trabalhadores por conta de outrem recebiam salários inferiores a 600€/mês; nos Serviços, o número de trabalhadores com salários líquidos inferiores a 600€/mês atingia 874,8 mil, ou seja, 34,2% do total. Os trabalhadores com salários líquidos superiores a 1.200€ por mês eram apenas 2,3% do total no sector primário; 6,4% no sector secundário, e 16,2% do total no sector terciário.
Afirmar, como dizem alguns, nomeadamente os “comentadores habituais” (“opinios –makers”), com acesso privilegiado aos grandes media, que a falta de competitividade da maioria das empresas portuguesas se deve aos elevados salários pagos, e que é necessário, para aumentar a competitividade, congelar os salários nominais, ou mesmo reduzi-los, como o governo deu o exemplo na Administração Pública, é revelar má-fé ou profunda ignorância da realidade económica nacional.
Infelizmente, este governo parece alinhar pelo mesmo diapasão, pois acabou de apresentar na concertação social um conjunto de propostas que visam “embaratecer” ainda mais “o factor trabalho”, como gostam de dizer os neoliberais da nossa “praça”, nomeadamente o trabalho dos estagiários e dos trabalhadores que estão nos programas ocupacionais (e são muitos milhares) com o objectivo, por um lado, de aumentar a exploração desses trabalhadores e, por outro lado, para os utilizar como instrumento de pressão sobre os restantes trabalhadores a fim de obrigar estes a aceitar reduções grandes nos salários reais.
Os dados do INE sobre os salários líquidos nominais dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, revelam e confirmam também a profunda desigualdade que continua a existir no nosso País na distribuição do rendimento, e se os propósitos das entidades patronais e do governo se concretizarem levarão certamente a um maior agravamento das desigualdades existentes e, consequentemente, da situação social mas também económica, tornando ainda muito mais difícil, doloroso e prolongado o tempo para sair da grave crise em que nos encontramos mergulhados.
Eugénio Rosa (Economista edr2@netcabo.pt 6.1.2011)














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