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Quem paga a Factura?
Publicado segunda-feira, 6 de setembro de 2010 | Por: Notícias do Nordeste

Às primeiras horas do dia 22 de Agosto de 2008, a Linha do Tua vivia dias de glória. Gozava então o improvável estatuto de único serviço Regional ferroviário em Portugal onde a oferta era suplantada pela procura, tanto de visitantes nacionais como estrangeiros. Improvável sim, mas apenas para aqueles que não conheciam a sua recente História, aquela de uma via-férrea desprezada por todas as entidades oficiais possíveis, e que ainda assim tinha o poder suficiente de atracção de milhares, apenas por mera passagem de notícia de boca a ouvido.

Assim era o zénite da Linha do Tua, quando durante a manhã desse dia uma conjugação de factores, esclarecidos mas ainda sem responsáveis, leva a um descarrilamento que ceifa a vida a uma pessoa, e deixa marcas profundas noutras. De repente, a bestial Linha do Tua passa novamente a Besta, um perigoso caminho de travessas podres, tirafundos desapertados, relevés desajustados, carris empenados e automotoras desadequadas.

Num minuto o troço Mirandela – Cachão devia ser encerrado juntamente com o troço Cachão – Tua, sabe-se lá por que motivos, no outro pode-se manter aberto. Valeu a concessão do Metro de Mirandela se estender até ao Cachão, ou os comboios estariam confinados a 4Km de exploração. Com que leviandade afinal se determinou este encerramento, que completou na passada semana dois anos? Porque se considerou intransitável o troço Cachão – Vilarinho, modernizado há apenas 8 anos? Com que critérios se comparou o relevo envolvente ao troço Brunheda – Tua, que forma a espectacular garganta do Baixo Tua, com o relevo do troço Brunheda – Cachão, notavelmente diferente do anterior?

Quem toma nota do movimento diário de passageiros encontra a terrível evidência dos números: uma via-férrea onde se impõe o automóvel em substituição do comboio é como que uma sentença de morte por lenta e agonizante asfixia. Não há comparação possível entre o número de passageiros do troço Cachão – Mirandela, e o do troço Cachão – Tua, e na década de 1990 a Linha do Tua perdeu com este método qualquer coisa como 80.000 passageiros em apenas 2 anos, 130.000 se contarmos todos os anos de autocarros de substituição no troço Mirandela – Bragança, que ainda se saldaram em uma morte e dezenas de feridos em vários acidentes.

A REFER é a dona da via, e é tutelada pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. A CP detém a concessão do troço Cachão – Tua, ao qual impingiu uma série de táxis, ao contrário de outras linhas onde são autocarros a fazer o serviço de substituição temporária do comboio. Juntas, conseguiram impor 2 anos de asfixia social e financeira às populações de 5 concelhos, ao Metro de Mirandela e à autarquia mirandelense, numa sangria constante de passageiros regulares e turistas, que ora se vêem forçados a deslocar-se de outras formas, ora a não se deslocarem de todo. Nem a desculpa da barragem é verídica: na improvável hipótese deste auto-presente de reforma maquinado por algumas individualidades (derrubado de forma estrondosa e categórica por factos indesmentíveis e atestados por um incontável número de especialistas e documentos oficiais) for avante, as águas então eutrofizadas do Tua não submergirão a Linha do Tua a montante da Brunheda.

Dois anos, findos os quais um projecto de turismo ferroviário na Linha do Tua vai tomando forma para transformar o Vale do Tua num verdadeiro destino turístico, envolvendo todo o território em seu redor, e a hipótese de reabertura do troço Carvalhais – Macedo de Cavaleiros vai ganhando contornos de viabilidade. Há projectos à espera, há oportunidades à espera, há populações à espera, há visitantes à espera; à espera de quem? Quem entre a REFER, CP e MOPTC paga a factura de 2 anos de atraso na reabertura da Linha do Tua, no mínimo dos mínimos à Brunheda? Quem se responsabiliza pelo tempo que falta até à reabertura? Quem tem a dignidade de vir ao Tua e explicar às populações e entidades locais porque é que a Linha do Tua não está já reaberta?

Num país assim, onde ninguém tem responsabilidade mas o mais fraco é que paga a factura, o termo Democracia é anedota de mau gosto.

Daniel Conde
Mirandela, 2 de Setembro de 2010.

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